Bernardo Ferreira

Reflexão ao Dilema das Redes Sociais

O Lado Negativo do Digital

05 OUT 2020

Capa - Reflexão ao Dilema das Redes Sociais (2)
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Bernardo Ferreira

Gestor de Marketing | Autor do Artigo

Enquadramento do Documentário

Esta publicação é quase como que pôr o dedo na ferida e olhar atentamente para o lado mais negro das plataformas e ferramentas com as quais nós digital marketers, agências, empresas usamos… e para a forma como ao fim ao cabo acabamos por alimentar um modelo de negócio de gigantes como a Facebook, Google… com tantas fragilidades. 

E eu sou uma pessoa extremamente otimista quanto aos benefícios que o digital traz para a sociedade – aliás é esta a profissão que eu exerço e aquilo que me apaixona -, mas faz-nos bem refletir-mos sobre as consequências que estas ferramentas podem ter quando não são usadas para o bem. 

Primeiro que tudo, para quem não está a par deste documentário, “O Dilema das Redes Sociais” é uma narrativa que procura alertar para as consequências que as redes sociais conseguem provocar no comportamento humano e consequentemente na sociedade, tocando nos seguintes assuntos:

  • Dependência e vício dos ecrãs;

  • Ansiedade da barra de notificações;

  • Relação entre saúde mental e uso de redes sociais; 

  • Fake news; 

  • Privacidade de dados; 

  • Polarização e radicalização; 

  • Manipulação psicológica e comportamental. 

Screenshot Netflix - O Dilema das Redes Sociais
O Dilema das Redes Sociais (Netflix)

Esta narrativa é conduzida por verdadeiros especialistas na área de social media. São profissionais que já trabalharam nas gigantescas como Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Pinterest – alguns deles responsáveis pelos modelos de rentabilização destas multinacionais e cocriadores das principais funcionalidades que caracterizam o ADN destas aplicações, entre as quais o famoso “like button“. 

Os algoritmos destas ferramentas são de tal forma tão evoluídos e complexos que são chamados de “inteligência”.

Têm machine learning incorporada pelo que evoluem de forma autónoma e inclusive dentro da própria empresa poucos são aqueles que percebem ao certo como estes funcionam e como o conteúdo é distribuído.

Por mais que estudemos sobre o assunto, por mais guru que alguém possa ser sobre esta vertente do digital, estes são verdadeiramente aqueles que sabem sobre a forma como os algoritmos das redes sociais funcionam, a psicologia por detrás de um simples “gosto”, a forma como os dados são trabalhados… 

A Indústria

Na generalidade da indústria, os negócios estão assentes em modelos de publicidade. E aqui eu gostaria de citar um dos especialistas neste documentário, Aza Raskin – “Nós não pagamos pelos produtos que usamos, mas sim os publitários. Os publicitários são os clientes, nós somos aquilo que é vendido”. 

Resumidamente, se nós não estamos a pagar pelo produto, isso quer dizer que nós somos o produto – no caso destas empresas tech, a nossa ATENÇÃO é o produto. O core destas empresas é manter os utilizadores o máximo de tempo possível agarrados ao ecrã – mesmo que isto envolva processos moralmente incorretos e pouco éticos. 

Quando falamos de anúncios online, falamos inevitavelmente da grande facilidade na forma como conseguimos apresentar uma mensagem de forma barata e muito eficaz às pessoas certas, no momento certo e no formato mais adequado.

Data

E é aqui onde surge um dos principais problemas: para se conseguir vender anúncios com esta exatidão – é preciso grandes quantidades de dados! 

O assustador é a quantidade brutal e nunca antes vista de informações que estas gigantes têm em relação a cada um de nós.

Nos últimos anos, vários especialistas têm afirmado que os dados são o novo petróleo – The world’s most valuable resource is no longer oil, but data (The Economist). Estes podem ser provenientes de transações, cliques, interações em redes sociais, conteúdo visualizado e muito mais.

Em termos quantitativos, só diariamente, são produzidos mais de 2,5 quintiliões de dados e este é um número que tende em aumentar ano após ano. De acordo com a DOMO, até ao final de 2020 existirão 40x mais bytes de dados do que estrelas no universo que observamos.

E a verdade é que a nossa pegada digital existe mesmo e vale muito dinheiro para estas organizações. 

Tecnologia Persuasiva

À parte dos dados, outro dos grandes dilemas prende-se com a tecnologia persuasiva.

Esta é uma técnica de design e uma psicologia comportamental aplicada à tecnologia, onde o objetivo é alterar o comportamento de uma determinada pessoa introduzindo um hábito inconsciente – ex. refresh page, scrolling.

Este tipo de comportamentos tem um efeito semelhante às slot machines – não sabemos o que vai calhar, mas temos a ansiedade de o fazer. 

Fake News e Desinformação

O terceiro grande tema que gostaria de destacar e refletir prende-se com as fake news e a era da desinformação.

As noticias falsas espalham-se hoje 6x mais rapidamente do que a verdade.

O problema aqui prende-se não só com o facto do algoritmo AINDA não ter a capacidade de perceber o que é certo ou errado, com a falta de regulação destes conteúdos e inexistência de regras que protejam os direitos dos utilizadores e a sua privacidade online.

Manipulação de Opiniões e Comportamentos

O documentário acaba também por se focar muito na forma como as redes sociais e a publicidade online consegue condicionar e manipular os comportamentos dos utilizadores, resultando em consequências inimagináveis.

A meu ver, sempre existiu manipulação na forma como a sociedade olha para determinados temas e acontecimentos, mesmo através dos meios tradicionais. 

Ainda hoje continuamos a ser bombardeados com anúncios em outdoors, rádio… Os jornais e televisões continuam a ter um claro posicionamento político através de algumas mensagens que transmitem, quer do enquadramento das suas reportagens, quer na visão do comentador do jornal de domingo à noite. A verdade dos factos continua a ser ajustada à realidade do emissor. 

Mas a grande diferença com o online, feeds e anúncios está no quão mais fácil e no quão mais barato está conseguirmos passar a nossa própria verdade dos factos com as redes sociais e anúncios online, resultante da hiperpersonalização dos anúncios, globalização das mensagens e sobretudo na falta de regulamentação.

E é isto que depois acaba por provocar problemas relacionados com a polarização política, radicalização, manipulação, desinformação, entre outros.

Vê o Documentário!

O mais curioso desta narrativa é a forma como os protagonistas do documentário acabam por fazer inúmeros alertas em relação a criações que eles próprios foram responsáveis – nunca acreditando que estas tecnologias pudessem vir a ter este lado tão negro.

Inclusive grande parte destes profissionais deixou o seu cargo por questões éticas e encontram-se hoje extremamente preocupados com a situação atual.

Aconselho-te vivamente a veres este documentário com atenção na Netflix.

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